O medo de ver a água invadindo suas casas assombra moradores que vivem às margens de canais no bairro Sarandi, na Capital. Em diversas edições, o Diário Gaúcho mostrou o problema que repetidamente acontece: a chuva forte vem, e a água dos canais transborda. O problema, que já era citado em reportagem de 2001, resulta da soma entre o acúmulo de lixo e a demora entre as limpezas.
A conselheira distrital de saúde Roselaine Modesto de Pádua, 47 anos, mora na Vila Elizabeth e diz que não dorme tranquila:
– Em agosto passado, foi feita uma limpeza, e deu para enxergar a água (hoje, a vegetação cobre parte do canal). Depois, podíamos dormir tranquilos quando chovia. A gente quer que seja feita outra novamente, antes dos temporais fortes.
Ela e outros moradores relembram o que foi considerado o pior alagamento, em 2013, quando um dique se rompeu no limite entre Porto Alegre e Alvorada. À época, Roselaine chegou a erguer algumas peças da casa, deixando-as mais altas em relação ao solo para impedir a entrada da chuva. Além das perdas materiais, seu filho foi hospitalizado após ficar doente por ter tido contato com a sujeira da água.
– A cada chuva que dá, se o canal não está limpo, tem alagamento. E os bueiros não funcionam – afirma a dona de casa Lais da Costa Ribeiro, 33 anos.
Necessidade
A agente educacional Patrícia Sebben, 42 anos, mora na Rua Farroupilha e relembra os transtornos que enfrentou devido à sujeira do canal que está a poucos metros do seu portão. Esse canal passa pela Estação de Bombeamento de Águas Pluviais 10 (Ebap 10) e, por isso, ficou conhecido como canal da CB10 (Casa de Bombas). Ele vem da Avenida Assis Brasil e encontra o Arroio Passo das Pedras, que deságua no Rio Gravataí.
– Em 2013, tivemos água na cintura. Com o canal como está hoje, já tivemos água na canela, porque demora a acontecer a limpeza. Entre os vizinhos, a gente conversa para evitar jogar lixo no arroio – conta.
Segundo os moradores, a limpeza mais recente teria sido feita em parceria com uma empresa da região. Até o fechamento desta reportagem, leitores da região estavam apreensivos com o volume de água decorrente da chuva desta sexta-feira (28) e já havia registro água nas ruas e dentro de casas na região da CB10.
No ano passado, a Associação dos Moradores e Amigos da Rua Serafim Alencastro e Entorno (Amarsae) buscou vias judiciais para cobrar por medidas. Audiências virtuais ocorreram entre associação e prefeitura, mediadas pelo Ministério Público (MP). Conforme o professor e vice-presidente da Amarsae, Jorge Brasil, 38 anos, a solução envolve a contratação de uma empresa com maquinários para dragagem e drenagem, e isso pode levar meses.
Desassoreamento, só para o segundo semestre
Em relação à frequência das limpezas nos canais, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) explica que a atual gestão “iniciou o ano sem contratos de desassoreamento e dragagem de arroios, canais e córregos e, portanto, não havia a previsão de frequência deste tipo de limpeza”. O diretor-geral do órgão, Alexandre Garcia, afirma que um termo de referências está em elaboração para que, até junho, seja publicada a licitação.
– Leva em média 34 dias da publicação até a ordem de serviço – afirma.
Questionado sobre a possibilidade de uma licitação para serviços emergenciais, Garcia diz:
– Colocamos todas as bombas a funcionar. Na última chuva, tivemos 60mm, e não houve registro de situação problemática. Agimos na manutenção de bocas de lobo para que o escoamento e bombeamento nas estações siga funcionando.
Nas reuniões realizadas com o MP e a Amarsae em 2020, o Dmae afirma que “foram definidas algumas ações para a área da Vila Leão, tais como a dragagem do canal da Ebap 10 e a construção de uma mureta na margem esquerda do arroio, no trecho entre Rua Serafim de Alencastro e a Avenida Assis Brasil”. Além disso, o departamento confirma que a empresa que realizou o desassoreamento de parte do Arroio Passo das Pedras teve o contrato rescindido por descumprimento ainda na gestão passada. E, “por intermédio de contrapartida, um empreendedor realizou a limpeza da vegetação de parte do Canal Casa de Bombas 10”. O Dmae também informa que não há parcerias de contrapartida em andamento em relação aos serviços nos canais. A pasta destaca que, com o novo contrato de empresa, o objetivo é dar prioridade ao desassoreamento.
PROMESSA
/// Previsão de início dos serviços de dragagem e desassoreamento de arroios, valas e córregos para o segundo semestre de 2021.
/// Após a contratação da empresa via licitação, que deve ocorrer no mês de junho, em média 34 dias para início dos serviços.
Produção: Caroline Tidra.
Fonte: DG
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