— Sentamos para conversar. Ele mexeu nos celulares e disse que ia ali fora e já voltava. Saiu e voltou. Informou que havia chegado um outro advogado. Perguntou se podia mostrar os aparelhos. Eu falei que sem problema nenhum, que ele poderia ir na outra sala. Acontece que ele não foi em sala nenhuma. Foi embora — recorda a jovem.
Enquanto a funcionária aguardava pelo retorno do falso cliente, outro comerciante chegou ao local também com o mesmo intuito de mostrar os telefones para o estelionatário. Mas, como ele já havia desaparecido, o golpe foi descoberto antes que ele fizesse a entrega.
— Ele estava muito tranquilo. Em momento algum gaguejou ou teve atitude suspeita. Chegou de terno, falando sobre o Fórum. Não parecia que não fosse um advogado — descreve Stephani.
Com a perda dos aparelhos, a loja teve prejuízo de cerca de R$ 3 mil. Após o caso, a própria OAB de Gravataí divulgou imagens do falso advogado, que mostram o momento em que ele chega ao local, acompanhado de outro homem (agora já preso).
Em nota, a OAB do município informou que entregou as mesmas imagens da segurança interna para a Polícia Civil. Na manifestação, a entidade esclarece que a sala usada pelo falso advogado não é o cômodo privativo, destinado aos membros da Ordem.
Na Capital
Em Porto Alegre, em uma assistência técnica, na Zona Norte, no início de setembro, um homem com as mesmas características ingressou no local e também se identificou como advogado. O golpista disse que o celular dele havia estragado. No entanto, como no local não são comercializados aparelhos, a atendente sugeriu que ele fosse até a loja matriz. Chegando lá, o falso advogado narrou a mesma história e completou ainda, informando que era conhecido da funcionária da outra loja e que havia deixado um aparelho para conserto lá.
— Ele começou a conversar, bem articulado. Estava de terno e gravata. Mencionou o nome da funcionária. Como ele disse que tinha deixado o aparelho lá, um iPhone 12, para orçamento, nos sentimos seguros — lembra o proprietário Wagner dos Santos, 30 anos.
O falso advogado fingiu fazer uma transferência bancária no valor de R$ 600 e foi embora, levando o telefone. Somente no outro dia, quando souberam que ele não havia deixado nenhum aparelho na outra loja, é que foi descoberto o golpe.
— É o mesmo que aparece nas imagens em Gravataí. Quando vi, na hora reconheci. Ele fingiu ter feito a transferência e nós acabamos, por um descuido, não entrando em contato com a outra loja, para verificar sobre o telefone — diz o proprietário.
Joalheiro enganado
Em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, outro caso bastante semelhante é investigado pela Polícia Civil. Um dia após o fato em Gravataí, em 17 de setembro, um joalheiro do município foi procurado, por meio de videochamada, por um homem que se identificava como advogado. O golpista disse que gostaria de adquirir alguns produtos, mas estava envolvido em compromissos e não poderia ir até a joalheria. Pediu, então, que o comerciante levasse os itens até a subseção da OAB.
O vendedor seguiu até o local, onde chegou também no fim da tarde. Da mesma forma, o estelionatário utilizou uma sala reservada para iniciar a negociação e completar o golpe. O comerciante entregou ao falso advogado caixas com uma gargantilha e dois anéis - avaliados em cerca de R$ 5 mil. Logo depois, o criminoso alegou que precisaria mostrar as joias para a esposa e saiu da sala. Nunca mais voltou.
Pela forma como o golpista agiu, a delegada Ana Luísa Aita Pippi, da 1ª Delegacia de Polícia de Santa Cruz do Sul, suspeita que se trate do mesmo criminoso. Imagens de câmeras são analisadas pela investigação. O episódio, segundo a delegada, foi o único registrado na cidade até o momento.
Suspeito identificado
O criminoso foi identificado por meio das imagens de câmeras como sendo um estelionatário, do Paraná. Conhecido como Tonelada, o homem de 53 anos já foi detido repetidas vezes por esse tipo de crime. Segundo o delegado Juliano Ferreira, da 1ª Delegacia Regional Metropolitana, o investigado possui mandado de prisão preventiva e é considerado foragido.
— A vida dele é dar golpes. É o ganha pão. Além desses daqui (da Grande Porto Alegre), temos casos no interior do Estado — confirma.
A polícia acredita que o objetivo dele seria revender os aparelhos celulares, para obter lucro. A investigação da polícia aponta que ele teria atuação em outros Estados, como Paraná e Santa Catarina. Recentemente, o falso advogado teria se hospedado em hotéis de Porto Alegre, com falsa identidade.
Um suspeito de ter sido o cúmplice do falso advogado em Gravataí- que também aparece nas imagens das câmeras - foi detido na semana passada, no bairro Bom Fim, na Capital. Em depoimento, segundo a polícia, ele admitiu participação no crime. O preso é um norte-americano de 49 anos, naturalizado brasileiro. Após ser detido, foi reconhecido pessoalmente por uma das vítimas. Os nomes não foram divulgados pela polícia.
— A investigação está bem adiantada, foram identificados os estelionatários, e estamos diligenciando para levá-lo à Justiça, pois o caso exige a atuação forte do Estado de maneira a coibir que casos assim aconteçam novamente — afirma o delegado Maurício Arruda, de Gravataí.
Tentativa de golpe na seccional
O presidente da OAB no RS, Ricardo Breier, diz que a entidade está atenta aos casos e que, além dos episódios em Gravataí e Santa Cruz do Sul, houve uma tentativa de golpe semelhante na seccional, no Centro Histórico, em Porto Alegre. No entanto, o criminoso não chegou a concluir o crime. O episódio teria acontecido antes dos outros dois.
— Estamos tomando cuidados e monitorando o caso. Avisamos os presidentes e colaboradores da ordem. Temos, ao todo, 106 subseções e 270 salas. Disponibilizamos as imagens de câmeras, para fazer as identificações. Como os nossos prédios têm portas abertas para advogados, sempre tomamos cuidado, mas agora está redobrado. Qualquer suspeita, a orientação é para que comuniquem diretamente a autoridade policial — afirma Breier.
Denuncie
A Polícia Civil orienta que as vítimas desse tipo de crime registrem os casos. É possível registrar o boletim de ocorrência pela Delegacia Online ou na DP mais próxima. Informações que possam levar ao paradeiro do suspeito podem ser repassadas, inclusive de forma anônima, pelo Disque Denúncia, no 181, ou pelo WhatsApp da Polícia Civil, no (51)98444-0606.
Fonte: GZH.
Foto: OAB / Divulgação
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