A publicação de reportagem em GZH na segunda-feira (28) sobre um suspeito de conquistar mulheres para obter vantagem financeira fez com que mais possíveis vítimas decidissem falar. A reportagem foi procurada por seis mulheres que dizem ter mantido relacionamentos com Guilherme Selister, 27 anos. Quatro delas concordaram em falar sob anonimato e relatam episódios de ameaças, pressão psicológica e prejuízo financeiro.
As mulheres apontam uma forma padrão de agir do suspeito. Ele começava a conversa por meio das redes sociais para se aproximar. As seis mulheres afirmam que o suspeito se dizia reservista da Marinha, ligação que a instituição nega existir. Em seguida, o primeiro encontro era marcado. Depois disso, havia pedido de namoro ou relacionamento contínuo.
Uma delas conta ter conhecido Selister por meio de um aplicativo de relacionamento em 2017 e afirma ter perdido R$ 30 mil na relação. Ele teria usado cartões de crédito dela, deixando dívidas que teriam sido quitadas somente neste ano. A depoente afirma que Selister teria se apresentado como engenheiro da Marinha que estava de mudança e buscava lugar para morar em Caxias do Sul. A vítima abriu as portas de casa para ele permanecer por um período, o que durou oito meses.
— Ele disse que tinha perdido a carteira com documentos, com cartões, com tudo. E que, como era militar, isso tinha de vir pela Marinha. Aí, eu perguntava: "Mas não tem nada no banco que tu possa pegar?". Ele respondia que recebia ligação do banco afirmando que, como a conta era muito antiga, não teria como liberar nada — diz ela.
O suspeito, então, segundo o relato, teria usado estratégia já narrada por outras vítimas: tinha uma doença neurológica e precisava de cirurgia. Para isso, necessitava fazer série de procedimentos. Um médico teria dito que o caso era grave, e ele simularia choros e provocaria sangramento no nariz com o objetivo de demonstrar efeitos colaterais do problema neurológico.
— Ele começou a me pedir dinheiro. Tinha de fazer exame, tinha de ir para Porto Alegre, pegar avião. Comecei a emprestar, porque, quando ele recebesse, iria me ressarcir desse valor — diz ela, ressaltando que os pedidos de dinheiro seriam diários e em pequenas quantidades.
Conforme a vítima, Selister usava roupas da Marinha e portava arma. O relacionamento teria acabado em razão das cobranças dela a respeito dos documentos que nunca chegavam e em razão de uma briga provocada pelo fato de ela ter publicado foto do casal em rede social. Ele teria ficado irritado e exigido a retirada da imagem do ar. Nesse período, ele teria ido ao Rio de Janeiro.
— Não tinha mais nada dele dentro do apartamento. Levou roupa, levou videogame que eu comprei porque os médicos diziam que ele tinha tanta dor na cabeça que tinha de ter alguns momentos de relaxamento.
A vítima diz que uma amiga encontrou uma fotografia do suspeito com outra mulher, em Balneário Camboriú, na data em que ele disse que estaria na Marinha, no Rio. Uma nova discussão teria terminado com ameaças.
— Se eu não falasse quem havia mandado a foto para mim, ele iria mandar uma pessoa atrás de mim muito pior do que ele — afirma ela, que diz ter registado ocorrência por ameaça.
Prejuízo de R$ 70 mil
Outra mulher relata ter conhecido Guilherme Selister em uma academia da Serra. O relacionamento teria resultado em prejuízo de cerca de R$ 70 mil. A vítima afirma que, no momento da aproximação, ela estava se separando. No início, o suspeito teria ajudado na mudança, fazendo algumas compras, como móveis.
— No início, ele investe um pouco para gerar confiança — diz a vítima.
Segundo ela, ele teria se apresentado como médico que fazia plantão em Porto Alegre. Com o tempo, ele começou a ficar mais tempo na casa dela e teria iniciado o golpe da doença neurológica quando ela revelou que teria dinheiro a receber do ex-marido referente ao divórcio. Ele também teria dito que teria uma indenização da Marinha a receber.
— Sou uma pessoa bondosa. Aí, eu disse que iria ajudar. Foi então que fiz o primeiro Pix de R$ 10 mil — diz ela.
Conforme o relato, o suspeito dizia que precisava ir a São Paulo semanalmente fazer procedimentos. Em cada viagem, precisaria de R$ 10 mil. Depois, teria dito que precisava tomar remédios caros. A mulher conta que, todas as manhãs, o ajudava a injetar uma substância no braço dele que faria parte dos procedimentos anteriores à cirurgia. Ao final do relacionamento, após mandar analisar a substância, descobriu que se tratava de anabolizante.
Desconfiando se o namorado era de fato médico, a mulher afirma ter descoberto em uma delegacia o histórico de registros de Selister. Então, ela afirma que chamou ele para conversar e cobrar seu dinheiro de volta.
— Fui lá para dizer que sabia da verdade, que tinha sofrido um golpe e que queria meu dinheiro de volta. E ele me disse: "Não fiz crime nenhum. Tu me deu porque quis, nunca te obriguei a me dar dinheiro" — conta a vítima.
O registro de ocorrência foi feito, e a investigação segue por parte da Polícia Civil.
Prejuízo de R$ 50 mil
Outra mulher relata ter perdido R$ 50 mil na relação com Guilherme Selister. Eles teriam se conhecido por meio de aplicativo de relacionamentos e ficaram juntos por cerca de um ano entre 2020 e 2021. Ela relata que o namorado se dizia nutricionista e médico e que era bastante atarefado em razão de plantões e cirurgias. A testemunha afirma ter feito empréstimos a pedido dele.
Ao ler os relatos da primeira reportagem de GZH, a mulher viu a história se repetir. Ele também teria dito para ela que era ligado à Marinha e que havia deixado a força em razão de um trauma.
— Começou a relatar a mesma história da necessidade da cirurgia e tratamento. Também que teria indenização a receber da Marinha — conta, ressaltando que decidiu registrar ocorrência na Polícia Civil em busca de punição e ressarcimento:
— Sei que fui vítima e a única pessoa que está errada na história é ele.
Suspeita barrou relacionamento
A última vítima afirma ter vivido relação de quatro meses com Guilherme Selister. Teria escutado a mesma versão sobre a formação em Nutrição e Medicina. Mas disse ter estranhado o comportamento do companheiro, que escondia a vida pessoal e ficava muito ansioso em ambientes públicos. Para ir em algum lugar com amigos, por exemplo, pedia o nome de todos que estariam presentes.
O relacionamento acabou quando ela fez contato com a universidade e descobriu não haver registro de Selister ter feito Medicina. A mesma resposta negativa recebeu de hospitais aos quais ligou para saber se ele trabalhava no local. Foi então que ela decidiu procurar a polícia e foi informada que havia registro por estelionato em nome de Selister.
— Falei para ele que tinha visto os BOs (boletins de ocorrência). A resposta dele foi: "Se tu viu os meus BOs, tu sabe o que é". E ele disse que não estava nem aí para a minha opinião — conta a mulher.
Contraponto
O que diz a defesa de Guilherme Selister
GZH entrou em contato novamente com o advogado de Selister, Antonio Arbuggeri. Ele disse manter a mesma nota enviada anteriormente:
"O cliente me passou que sempre esteve à disposição da Polícia Civil e da Justiça para esclarecer o ocorrido e que irá comprovar sua inocência na Justiça. Quanto aos fatos a ele imputados, disse que são descabidos e sem comprovação, e que não recebeu até o presente momento qualquer notificação judicial para dar sua versão dos fatos".
Fonte: GZH.
Foto: Redes sociais/reprodução
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