Motivadas por episódios constantes de violência e descaso, grupos de mães atípicas, como são conhecidas as mães de filhos com transtorno do espectro autista (TEA), protestaram na tarde desta quarta-feira em frente à sede do Ministério Público (MPRS), em Porto Alegre.
O ato ocorreu após o indiciamento de uma professora do Colégio Romano Senhor Bom Jesus, que admitiu, em áudio para colegas, ter sufocado com um pano, um aluno autista de seis anos de idade. “Isso foi apenas o estopim. Nós buscamos desde sempre a educação inclusiva, da qual eles falam tanto, e que, na vivência e na realidade, não existe”, disse Érika Rocha, presidente do projeto social Angelina Luz. “Nossos filhos são totalmente segregados, excluídos. Sofremos violências físicas e psicológicas todos os dias”, acrescentou.
A mãe do aluno que sofreu violência no Colégio Romano também compareceu ao protesto. “Estou esperando Justiça. Estou aqui com todas as mães que já sofreram violência na escola. Eu trouxe o pano que foi usado para sufocá-lo, para mostrar para todo o mundo a monstruosidade que foi feita com ele”, lamentou Susana Oliveira.
“A lei é clara: as escolas e as gestões têm que ser capacitadas. Mas não é isso que vemos, eles jogam dentro das escolas monitores de ensino médio, estagiários, que não têm conhecimento nenhum sobre deficiência”, critica Érika. Conforme relatos de outras mães, a incapacidade, por parte das professoras, de lidar com as crianças com TEA é frequente. Andressa Schumann, de Charqueadas, é mãe solo e habitualmente precisa buscar o filho antes do horário na escola. “As professoras não conseguem ajudá-lo e facilitam comportamentos negativos. Eles não atingem seu potencial desta forma”, considera.
“Engana-se quem pensa que o monitor está só para ajudar na alimentação, higiene e locomoção. Não queremos apenas um lugar para largar nossos filhos por algumas horas. Se fosse isso, levaríamos eles ao shopping, ao parque. Queremos educação adaptada para que possam aprender, da forma deles, junto das crianças típicas”, reivindica Érika.
Após cerca de uma hora de protesto, o MPRS concedeu uma audiência ao grupo. “Existem centenas de denúncias no MPRS. As mães ficam aguardando uma resposta durante anos. Nós queremos o MPRS, efetivamente, em cima, junto às escolas e à Secretaria de Educação”, exigiu Érika, antes de entrar na reunião.
Em nota, o MPRS disse que, a partir das demandas apresentadas pelo grupo de manifestantes, “foi estabelecido um canal de comunicação entre o Ministério Público, a família do menino e o movimento Angelina Luz. A partir da conversa, as pautas serão incluídas como objetos de análise do MP para fins de encaminhamentos transversais, na área da infância e juventude, educação, saúde e criminal” e que o Núcleo de Promoção dos Direitos das Vítimas do MPRS (Nuvit) foi acionado para prestar o apoio à vítima e sua família e providenciada sua inclusão em “escola que atenda às suas necessidades e da família, bem como realizados outros encaminhamentos no que se refere à esfera protetiva da criança e em relação à responsabilização da escola”.
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