Marla Cruz nasceu na Bahia, foi criada em São Paulo, passou por Londres e Brasília, mas foi em Porto Alegre que se reencontrou. Há cinco meses, a bacharel em Direito trocou a estabilidade do trabalho no escritório pelo sonho de se tornar empreendedora e abriu o Bar Odara, local que passou a ser um ponto de encontro para a comunidade negra da Capital.
"É um bar que acolhe os movimentos? Sim. É um bar que traz essa questão de ocupação? Sim. Mas ele não segrega ninguém. Desde que você esteja de acordo com a ideia do espaço e que saiba que precisa ser antirracista, você é bem-vindo”, explica Marla.
A empreendedora conta que, embora ativista e identificada com a pauta, a chegada dos movimentos negros ao estabelecimento se deu de maneira espontânea. O primeiro coletivo a ir até o Odara foi o Arte Suburbana, para lançar um projeto. Conforme Marla, a divulgação boca a boca e o sentimento de pertencimento entre os frequentadores transformou o ponto em um reduto da população preta.
“Foi uma coisa muito natural. Acredito que por conta de toda questão interna, por ter ali uma mulher negra comandando. E, quando os movimentos vêm, fixam uma bandeira e ocupam realmente o local com esse ideal”
O nome do estabelecimento presta uma homenagem a uma composição homônima de Caetano Veloso, ídolo de Marla. Odara, segundo o próprio autor da música, é um termo da cultura iorubá que significa "bom", "alegre", "luminoso". E foi, parafraseando Caetano, "para ficar tudo joia rara" que, em dez dias, ela e a então sócia Alice Arnhold deram início à operação do bar.
Empreendedora explica a chegada dos movimentos pretos ao bar.
O local escolhido para a operação do negócio foi a Rua João Alfredo, no bairro Cidade Baixa. Conforme a proprietária, a definição se deu por duas razões: por se tratar de uma região boêmia e por ser reduto de pessoas com ideais conectados aos dela.
“A Cidade Baixa é o bairro que eu mais me identifiquei quando cheguei a Porto Alegre. Eu me apaixonei por esse bairro à primeira vista. Eu morava na Zona Sul, mas eu vivia aqui”, conta a empreendedora.
Empreendedora negra fala sobre os estereótipos que cercam o empresariado feminino.
Dificuldades
Mulher preta e mãe solo, ela enfrentou barreiras familiares para dar continuidade ao projeto.
“Nossa, tu estudou tanto para tua área, por que agora vai abrir um bar, ficar a noite inteira atrás de um balcão?’ Eu tive que quebrar essas barreiras, em um rito bem de imposição mesmo. É isso que eu quero, pronto, acabou!”, relembra.
Outra questão trazida por Marla é a falta de tempo e o cansaço. Atualmente, o Bar Odara não conta com funcionários. Ela conduz a operação do negócio com a ajuda do companheiro. Ele fica responsável pelas partes financeira e de compras, enquanto ela faz o atendimento, o marketing, fecha eventos e, nas palavras da própria, "segura os rojões diários dentro daquele salão".
“Também houve momentos em que eu percebi aquela surpresa. 'Ah, tu que é a dona?'. Isso aconteceu bastante. Tem a questão social, de não conseguir enxergar, até pelo estereótipo do empresário: branco, cis, homem”, relata.
Fonte: G1
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