Segundo uma das vítimas, Danielly Machado Sousa da Silva, 26 anos, um grupo de turistas argentinos teria comparado o casal, que lanchava no momento, à imagem de um macaco comendo hambúrguer. O desenho integra o layout do restaurante.
"Estavam rindo da gente, e por algumas vezes chegamos a achar que tivesse algo estranho conosco. Até que um dos adolescentes apontou para nós e para um macaco que estava desenhado na parede", relatou.
Conforme Danielly, ao entender o que havia ocorrido, o casal chamou um dos atendentes para que o estabelecimento tomasse uma atitude em relação ao constrangimento que estavam passando.
Os funcionários, no entanto, teriam pedido ao casal para que relevassem a agressão.
"O garçom, ao dirigir a palavra para nós, fez movimentos com as mãos pedindo calma e fazendo o som de "xiuuu" (silêncio) com a boca, falando que não era motivo para [o casal] se comportar daquela forma", contou.
Danielly relatou que o garçom que pediu silêncio ao casal justificou que a injúria racial era praticada por um grupo de adolescentes, por isso, deveriam relevar.
"Ele, homem branco, disse que sabia o que estávamos passando e diminuiu o acontecimento falando para relevar. Ficamos muito constrangidos e incomodados com a situação", relatou.
O episódio ocorreu no restaurante Sabor Tropical, no Centro de Balneário Camboriú.
Em nota, o advogado do dono do estabelecimento disse que "nenhum dos nossos colaboradores presenciou o fato e, por se tratar de uma criança a suposta autora da ofensa, foi esclarecido que se o mesmo quisesse tomar alguma providência, que o fizesse diretamente com seus familiares."
"Destaca-se que foi informado a possibilidade de acionar as autoridades (polícia, etc). O cliente ofendido aparentemente não buscou as autoridades, contudo, imputou ao nosso colaborador (que nada presenciou) a obrigação de tomar uma providência", diz a nota (veja abaixo a íntegra).
Nas redes sociais, o marido de Danielly, Ricardo Oliveira dos Santos, 28 anos, relatou que o casal chegou a falar que chamaria a polícia, momento em que uma das mulheres foi até a mesa e pediu desculpas pela atitude dos adolescentes.
"Em nenhum momento os representantes do local se dirigiram aos responsáveis dos adolescentes. Nenhum pedido de desculpa havia sido proferido por parte da família ou da empresa, até que o meu esposo disse, em tom mais alto, que chamaria a polícia", lamentou Danielly.
O casal não chegou a acionar a Polícia Militar. Segundo a vítima, ela não conseguiu pegar o celular para gravar o que estava acontecendo, porque ficou "sem senso”. "Eu não estava acreditando que estava passando por aquilo", contou.
Além disso, conforme as vítimas, eles insistiram em conversar com o responsável pelo estabelecimento, da qual eram clientes, mas foram ignoradas pela pessoa que se apresentou como supervisora.
"Só fez som de concordância e mudou de assunto, e mais uma vez fomos surpreendidos com o posicionamento da equipe, que agiu com completo descaso", disse.
À reportagem, a Polícia Civil disse em nota que "o boletim de ocorrência será analisado e homologado por um policial dentro de um prazo de 24 horas. Após análise, o BO é encaminhado para uma unidade da Polícia Civil. Se não for homologado, o cidadão receberá a justificativa".
O que diz o restaurante
Confira abaixo na íntegra a nota enviada pelo advogado Rodnei Santos:
"De início cumpre esclarecer que a lanchonete Sabor Tropical está aberta no mesmo local desde 2005, ou seja, completou 18 anos de atividade. Neste período jamais houve qualquer episódio envolvendo a lanchonete e ou seus colaboradores e clientes com relação em questão étnica, opção sexual, nacionalidade, etc. O estabelecimento atende diariamente centenas de pessoas, sempre com atenção especial ao lado humano. Atende no seguimento de lanches e refeições rápidas, abrindo as 9h da manhã e fechando as 2h da madrugada.
O que foi apurado diz respeito a um fato isolado em que um cliente se sentiu ofendido pois na mesa ao lado da sua estava um casal e duas crianças que se supõe de cidadania Paraguaia/Argentina/Uruguaia/Chilena, onde uma dessas crianças teria apontado para o mascote da lanchonete (um macaquinho que é o xodó de várias crianças) e também apontado para o cliente que, por ser da raça negra, se sentiu ofendido. Nenhum dos nossos colaboradores presenciou o fato e, por se tratar de uma criança a suposta autora da ofensa foi esclarecido que se o mesmo quisesse tomar alguma providência que o fizesse diretamente com seus familiares. Destaca-se que foi informado a possibilidade de acionar as autoridades (polícia, etc). O cliente ofendido aparentemente não buscou as autoridades, contudo, imputou ao nosso colaborador (que nada presenciou) a obrigação de tomar uma providência. Este esclareceu que poderia apenas acionar as autoridades, pois qualquer outra atitude certamente geraria implicações pois o fato geraria a abordagem de criança de outra nacionalidade. O cliente deixou o estabelecimento de forma normal mas aparentemente chateado com a situação. Somos sensíveis e solidários com todos aqueles que, por suas características pessoais, são vítimas de preconceitos diversos. Por fim, nossa empresa está inteiramente à disposição para maiores esclarecimentos. Atte. Equipe Sabor Tropical"
Fonte: G1.
Foto: Arquivo Pessoal
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